sexta-feira, 12 de junho de 2015

Retas paralelas

Carlos, sossegue, o amor é isto que você está vendo:


Sei que entende sobre as retas paralelas. nunca-se-cruzam-se-encontram-no-infinito. Queria ter faltado a essa aula.

Preciso respirar.


Não entendo nada de auto-preservação. Acredito demais na humanidade. Me desnudo. E fico horas pensando em palavras e tons e toques e não entendo nada de nada disso, eu acho. Deus, "só se pode viver de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor". Não entendo nada de amor também. E leio os outros textos mais antigos e percebo: não entendo nada de amor. Mas queria tanto... queria tanto! Deixava os dias passarem a tentar compreender seus descaminhos, formulava teorias: coitado de quem ouviu. Eu não entendo nada de amor.

Abri essa página. "We've changed, honey boo". Você seria capaz de compreender todas as palavras? Eu falei tanto. Tanto. Eu falei demais. Você compreendeu algo? Engraçado como pareço suspensa no ar. E eu deveria ter medo, tantas coisas já conspiraram para a cautela. O talvez amor sempre tão cheio de arestas, tantas cicatrizes. Não é nada fácil, eu sei. Parece que não aprendi nada. Eu não tenho medo do amor, das suas variações. Não entendo nada de auto-preservação e por isso espero por ele, pelo amor, com os pratos na mesa. Com aquela carta, a do Johnny Cash, enquanto compreendo quem ele é enquanto leio Drummond enquanto preparo teorias enquanto recorto camisetas enquanto perco o sono. 

"Pensamos parecido. Lemos a mente um do outro. Sabemos o que o outro quer sem perguntar. Às vezes, nós irritamos um ao outro um bocado. Talvez, algumas vezes, tratamos um ao outro como garantido.  Mas de vez em quando, como hoje, refleti sobre isso e percebi o quão sortudo sou por compartilhar minha vida com a mulher mais incrível que já conheci. Você continua me fascinando e inspirando. Você me faz ser melhor. "

e Adélia. São tantas as palavras...

"O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.
O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é"

Não faz nenhum sentido. Hoje tudo teve um peso tremendo: senti amor pelo amor, senti leveza porque tudo tem parecido tão difícil, há muito ódio espalhado, tem dias, te juro, a vontade em mim some. Hoje eu respirei, tive esperança. Em nós, inclusive. E pensei em tudo que essa corrida de fim de tarde significa. Por nós passam os carros. Por nós, as pessoas. Por nós, também, atravessam sentimentos incompreensíveis, atravessam palavras que nem sempre queremos que sejam ditas, atravessam segredos inúmeros. Todos os nossos segredos inúmeros. Todos os dias em que o pôr-do-sol (o horário mais lindo para mim, talvez saiba) aconteceu entre duas ou três da manhã e eu dizia que precisava ir, sim, eu precisava ir. Eu preciso ir. Tudo o que nos atravessa com demasiada rapidez me faz crer realmente na capacidade sensível do espírito que temos. A intensidade, a frequência das ondas desse rádio, tudo o que escuto fala de você. O sino toca lá fora. Todos os sons são seus. O sino é seu também. O sino inaugura um novo dia: quero desvencilhar, preciso me encontrar.

Você vem? 

Eu não acredito nas teorias matemáticas. Talvez as retas paralelas extrapolem a teoria. Merecemos mais que toda essa razão de um para dois. 

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