segunda-feira, 25 de outubro de 2010

estado de quem se cala ou se abstém de falar (*)

(silêncio)


Já não sabia o que dizer, então pensei em escrever um poema - poemar, se me for permitido um verbo. Nada feito. Desaprendi como é que se escreve, as palavras não tomam forma e se decompõem antes mesmo do fim da primeiro linha. Triste vida essa do ser que se vê esquecido pelas palavras. O tempo fechou, era como se o sol se escondesse atrás das nuvens mais densas que já apareceram por esse céu que agora posso ver. Essas mesmas nuvens ainda teimam em esconder o sol. Eu poderia dizer com muita pausa e cuidado que, nos últimos dias, chovera c-o-p-i-o-s-a-m-e-n-t-e. Eu já nem sabia de que lado da janela era a chuva: se fora, com temporais, se dentro, quase em mim - ou tão somente em mim. Era a chuva do abandono e, é claro, do silêncio que se instalou a partir da falta de palavras. Silêncio: abismo branco que, por mais que se tenha pulado há milênios, jamais se chega ao chão. Talvez seja exatamente essa a dor que o silêncio provoca: a ausência de qualquer coisa como dor, amor ou vozes ao pé do ouvido numa ligação madrugada adentro. O silêncio é não saber se, após o salto, se cairá de cabeça no chão ou numa cama-elástica. E isso maltrata. Parecido com uma porta (e)ternamente aberta para quem se recusa a entrar.


(silêncio)




(*) definição do Houaiss para silêncio.

Denso

É - suspirei - acho que hoje consigo começar. Esse espaço está aqui há alguns dias e eu, sinceramente, não sabia se queria escrever tão cedo nele. Queria que aqui as coisas fossem bonitas, cheias de alma, de cor. Mas não consigo escrever sobre algo que não estou sentindo, preciso sentir, como um incômodo na alma, uma coceira. Preciso sentir para escrever. E sinto, e sinto tanto. E nem sei se me é permitido sentir o tanto que sinto. A alma grita e eu me calo. Calo e consinto: pode usar, tá certo?! Minhas roupas, minhas palavras, meu coração. Eu finjo que não estou vendo, eu finjo que não ligo. Mas, por dentro... por dentro eu estou gritando pra você(s) parar(em). Nada muda: estático.
Acho melhor parar por aqui.