quarta-feira, 2 de março de 2011

Passa, passou.

"A gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesmo nunca se deve de tolerar ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato é."
(Guimarães Rosa)
Meu tempo é que não vou perder. Um dia desses ouvi de minha tia que mágoa trazia doença pra gente. Eu nunca fui de guardar mágoa nem rancor de quem quer que fosse, e não era por medo de adoecer. Era só porque não valia a pena, e nem vale. Mas, de uns tempos pra cá, dei de me agarrar em raivinhas miúdas e transformar tudo num grande nada. Para me remoer, para me doer, para sentir. Os olhos ardiam lágrimas salgadas, as pernas dedos pés mãos tremiam. E logo me deixava falar o que não deveria, o que não queria. Nunca fui muito controlada, nunca fui muito certeira nas palavras. Controlei-me anos a fio cada vez que me pisavam os calos, mas ai de quem pisava em calos alheios. Ficava raivosa, não controlava minhas lágrimas. Sofria sozinha. Sofria por um sentimento que nem nobre era. Chorei pelos problemas que inventei, pelos problemas que tornei meus. Passei noites em claro pensando no que não podia resolver. Para quê? Por nada. Então ouço os versos lentinhos de Chico Buarque me aconselhando: seu pranto não vai nada ajudar. Meu pranto não ajudou. Meu pranto não ajudará. Meu pranto leva um basta: os tempos são outros. Todo o pranto passa, mesmo que pese num momento. Estou leve, serei leveza porque quero assim. Estarei feliz, porque é bem que se quer e quero para o mundo e para mim. Não serei a Carolina que deixará o tempo passar na janela sem me deixar perceber. Verei. Estarei lá.