domingo, 22 de maio de 2011

Essa saudade eu sei de cor.

Nós nunca sabemos bem do que sentimos falta. Nós nunca sabemos bem o que pode nos fazer falta algum dia. Passamos, então, pela casa sem guardar bem seu cheiro. Pelos corpos sem lembrar bem seu formato. Ouvimos passos que não gravamos os sons. Bebemos coisas que não lembramos o gosto. Ouvimos música que não lembramos do som. Construímos tijolo por tijolo e, de repente e sem entender, precisamos deixar a casa, precisamos mudar os ares, precisamos - e como - crescer. Precisamos chorar um cadinho. Precisamos sofrer miudinho, em silêncio, recitando fórmulas químicas que nem sabemos se, de fato, entendemos. É começar a voar para ver se as asas aguentam. É preciso começar, de alguma forma. Aí nós olhamos para trás e percebemos que estamos longe de tudo o que fomos, da casa que construímos, dos passos corpos cheiros músicas vozes. Aí lembramos do quanto cada tic tac do relógio antigo faz falta na noite silenciosa. O quanto o cheiro de lavanda que a mãe passava na casa toda faz falta, porque cheiramos, cheiramos, cheiramos e é tudo em vão. Só a mente que, enganando-nos, sente. Sente um cheiro que não está mais ali. E aí, aí não dá para suportar muito não, companheiro. Aí os olhos se enchem d'água mesmo, aí as lágrimas são cruéis, caem sem nos pedir permissão. Aí, companheiro, aí dá saudade, sabe? Dá saudade de tudo o que já fomos, dá saudade do colo que já tivemos, do abraço de boa noite que não chega não. Dá saudade de falar as gírias que falávamos. Dá saudade de gritar como gritávamos. De chorar como chorávamos, sem medo de parecer bobo. Mas chega um tempo, caro colega, que a vida se apresenta mesmo assim: um amontoado de saudade de coisas que pensávamos que não nos fariam tanta falta. Sente-se falta do volume da tosse, da leveza ao caminhar. Sente-se falta de cada pedaço dos domingos de tédio. E é justamente nesse tempo que devemos mostrar para o que é que viemos. Limpar as lágrimas e mostrar, para nós mesmos, que nada disso foi em vão. Que nenhuma das lágrimas cruéis caiu se não fosse para trazer alguma mudança. A saudade dói uma bofetada, mas ensina que só.

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