quinta-feira, 19 de julho de 2012

Hoje é dia de Maria

"Acredite, minha pequena Maria, hja ou não frutos, é pelo sonho que vamos"
Carpinejar disse que esperamos pela velhice, mas, quando lá, somos todos inexperientes. Inicio assim.

Ventou forte. Algo dizia que ali, no meio daquele frio que era julho no sul, nasceria uma lagarta. Então nasceu. Andava por aí lentamente e a procurar qual era, realmente, o sentido de todas aquelas perninhas, aquele corpinho desajeitado. As lagartas não nascem sabendo-se borboletas futuras. E caminhava então pelas ruas a encontrar, a esbarrar, a perder também. Era uma lagarta de choro fácil. As coisas aconteceram incessantemente, as horas corriam no relógio da natureza que não tem parada: só a morte o cessa. Mas como ainda estava viva e andando por aí, era submetida à invasão das horas, à irremediável capacidade de crescer. A irremediável vontade, então, de viver o que a vida colocava pelo caminho. Passava pelas pedras com a calma que nascem as lagartas, mas não conseguia manter-se nesta calma sempre tão chata. Corria também, poderia  coraçãozinho - não sei como se comportam o coração delas - tão miúdo suportar tanta correria? A espécie não compartilha de longas pernas e braços, mas ela queria abraçar o mundo com o que possuía, justo o mundo, tão gigante perto da pequeneza característica destas. Ela, lagarteando a vida, passeando por coisas que jamais imaginaria, percebeu que era hora de fechar-se num casulo. Entretanto como fazê-lo? Ela que parada não ficava de jeito nenhum, que detestava o tédio insuportável dos domingos... Como fechar-se assim? Aconteceu, no entanto. Mais simples do que pensava. Embora apertado, e como era, a escolha foi dela. Apaixonou-se, não pelo casulo, mas por outro que, mesmo com medo delas, viria a ser borboleta mais cedo ou mais tarde. O casulo rompeu-se. Como fazia frio naquela noite, também de julho, quando as massas de ar frio pousam sobre o sul do país. Fez-se borboleta, como um dia sonhou. As lágrimas tomaram-lhe os olhinhos e choveram. Não era tristeza. Não era alegria. Só não sabia direito o que fazer com aquelas asas tão coloridas e grandes. Só não sabia direito voar.

Esperamos incessantemente. Somos todos inexperientes. 


E hoje... hoje é dia de Maria. 

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