(silêncio)
Já não sabia o que dizer, então pensei em escrever um poema - poemar, se me for permitido um verbo. Nada feito. Desaprendi como é que se escreve, as palavras não tomam forma e se decompõem antes mesmo do fim da primeiro linha. Triste vida essa do ser que se vê esquecido pelas palavras. O tempo fechou, era como se o sol se escondesse atrás das nuvens mais densas que já apareceram por esse céu que agora posso ver. Essas mesmas nuvens ainda teimam em esconder o sol. Eu poderia dizer com muita pausa e cuidado que, nos últimos dias, chovera c-o-p-i-o-s-a-m-e-n-t-e. Eu já nem sabia de que lado da janela era a chuva: se fora, com temporais, se dentro, quase em mim - ou tão somente em mim. Era a chuva do abandono e, é claro, do silêncio que se instalou a partir da falta de palavras. Silêncio: abismo branco que, por mais que se tenha pulado há milênios, jamais se chega ao chão. Talvez seja exatamente essa a dor que o silêncio provoca: a ausência de qualquer coisa como dor, amor ou vozes ao pé do ouvido numa ligação madrugada adentro. O silêncio é não saber se, após o salto, se cairá de cabeça no chão ou numa cama-elástica. E isso maltrata. Parecido com uma porta (e)ternamente aberta para quem se recusa a entrar.
(silêncio)
(*) definição do Houaiss para silêncio.
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